{caminhante}
este tem sido o meu lema, ao longo de toda a minha vida. um passo de cada vez, o caminho vai-se fazendo. sempre em frente, sem olhar para trás e, de preferência, sem desvios ou corta-matos. com companhia, é o ideal. há caminhos mais ou menos fáceis, pelo que é importante a escolha do calçado a usar.
posso dizer que a minha infância foi uma das caminhadas, que mais me deu prazer. caminhava, sempre, a passo largo, para conseguir alcançar o meu pai. um passo dele, equivalia a dois meus. caminhámos bastante... tanto, que fiquei com o hábito de andar sempre depressa, mesmo quando tenho todo o tempo do mundo.
o caminho fez-se bem, durante a minha adolescência. foi uma boa caminhada [sempre acompanhada pela amizade de três caminhantes, como eu].
a uma certa altura, contudo, optei por um caminho que não estava previsto, porque olhei para trás e odiei o que tinha ficado lá longe. e eu que gosto tanto de seguir à risca os meus planos de viagem, desviei-me...
o desvio, paguei-o caro. o nevoeiro não me permitia ver o chão que pisava. andava às cegas. tacteava o piso, a terra, a gravilha. não. não sabia onde estava nem sabia para onde estava a ir.
o abismo. demasiado perto do abismo. onde eu parei. um dos meus pés ainda resvalou. quase caí...
agarrada pela mochila, arrancaram-me àquele destino. devolveram-me o chão, a terra firme.
hoje, de volta ao caminho certo, passo a passo vou caminhando...
[esperando nunca mais olhar para trás, nunca mais me desviar, esperando nunca mais ver o abismo... porque posso estar sozinha, porque posso resvalar e não ter ninguém que me agarre pelo casaco]
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Trecho do livro de Susanna Tamaro 'Vai aonde te leva o coração'