" (...) vive cada estação enquanto elas duram, respira o ar, bebe a bebida, saboreia a fruta (...)"*


"(...) e deixa-te levar pelas influências de cada uma (...)" 

*henry david thoreau


acontece-me, com alguma frequência. principalmente, à noite, enquanto fecho as portadas das janelas de nossa casa. o ar fica repleto de votos de boas noites, de passarinhos para passarinhos. uma doce mistura de onomatopeias, preenche o silêncio característico das noites, aqui no campo. chilreares que se misturam aos zumbidos e outras tagarelices.

são momentos como este que me fazem perceber que sim, estou aqui e lisboa está lá longe... uma dia destes, comentava com a minha colega, como ainda não me sentia migrante. como se, de uma dia para o outro, fizesse as malas e regressasse. 

regressar... 

"ainda não te caiu a ficha, não é?" é, amélia... ainda não me caiu a ficha. ainda não sinto, nas pequenas coisas do dia-a-dia, que este é o meu novo mundo. que esta casa - que eu adoro - é minha; que este jardim lindo, é meu; que a horta que cresce, produz legumes e frutos para a nossa mesa. que este é o meu lar.

o nosso lar.

o lar é onde o nosso coração está e o meu está aqui. então... porque é tão estranha, esta sensação que sinto? sinto-me como se estivesse de férias, à semelhança de outros anos. sinto, lá no fundo, aquela ansiedade que aumenta, ao aproximarmo-nos do dia de regresso.

regresso.

tenho alturas em que a minha cabeça, não é mais, que um imenso novelo de lã, após ter passado pelo assustador tufão luna... 

então, eu saio à noite, fecho as portadas das janelas e, de igual forma, os olhos. e atenta, escuto:

os votos de boas noites, de passarinhos para passarinhos. a doce mistura de onomatopeias que preenche o silêncio característico das noites, aqui no campo e os chilreares que se misturam aos zumbidos, aos cri-cris, aos pu pu-pu... e tantas outras vozes que se juntam, nesta imensa orquetra que se reúne, todas as noites, à minha volta.

(um dia, a "ficha" acabará por cair)

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