motivo de abandono: mudança de casa.


esta é a riza e está connosco há cerca de dois anos. foi resgata em cheires: muito magra, deficiente física (todo o esqueleto apresenta graves deficiências), extremamente assustada, cheia de carraças, gelada (em cheires, o frio do inverno consegue ser o mais cruel), com fome, muita fome... os vizinhos contam que ela andava ali há, pelo menos, três anos. escorraçada por uma boa parte da população, tinha, somente, um cão que a protegia e uma vizinha que lhe ia dando, de vez enquanto, algo para comer. 

o bóris acabara de salvar três bebés recém-nascidos (que se encontravam dentro de um saco de lixo doméstico, misturados com cascas de batata e restos de comida) quando a riza se juntou à família.

em lisboa, o apartamento ficou mais pequeno, claro: quatro cães, duas cadelas, uma gata e uma tartaruga.  algumas pessoas insistiam que deveríamos dar ou, mesmo, entregar alguns deles, ao canil. a essas mesmas pessoas, fazia-lhes impressão todo aquele amor que a família humana sentia pelos patudos. a nós, por outro lado, fazia-nos impressão aquelas pessoas... quem não consegue sentir empatia por patudos, não pode ser uma boa pessoa. esta é a minha opinião e não peço desculpa por isso.

todos os dias, existem apelos para a adopção urgente por motivo de mudanças. cada vez mais, aparecem casos em que os tutores, sem vergonha na cara, mudam de casa e deixam o patudo para trás - sem água, sem comida, sem explicação...

quando decidimos mudar de casa, de lisboa para viseu, muitas razões pesaram na balança. uma delas, a situação insustentável, de termos cinco* cães num apartamento, onde só tinham uma janela para a rua. a sua frustração sentia-se aumentar, de dia para dia. e, por eles, começámos a procurar uma vivenda, onde os patutos pudessem brincar, como patudos que são.

as mesmas pessoas que insistiam que deveríamos dar ou, mesmo, entregar alguns deles, ao canil, tentaram, até à exaustão, dissuadir-nos desta mudança. "não me digas que é por causa dos cães!", perguntavam. não, respondíamos. para quê explicar, a uma parede, que os cães são tão importantes, como qualquer outra pessoa da família? se não iriam entender, para quê perder tempo a explicar?

os nosso patudos dormem dentro de casa,  têm festas de anos, presentes de aniversário e celebram o natal. comem bolos especiais, feitos pelas mãezinhas. a tia (eu) e os avós (meus pais) dão disparates, às escondidas. e sim, são os nossos filhotes, sobrinhos, netos. porque sim. porque são tão importantes como quaisquer outro membro da família.

e, por todas estas razões, um dos motivos de abandono, mais recorrente, nos últimos tempos, é - para nós - uma verdadeira treta. a mudança de casa não necessita de ser, obrigatoriamente, um motivo de abandono. se foi fácil encontrar uma casa para todos nós? não. mas tanto procurámos, que encontrámos. quem, de facto, ama, não arranja uma desculpa mal amanhada. procura e encontra uma solução.

nós não só mudámos de casa, mudámos de concelho. porque lisboa está a tornar-se uma cidade pouco amiga de patudos - alias, pouco amigo de seja lá quem for: humanos ou patudos! por isso, e depois de muita procura, em lisboa, decidimos procurar fora do concelho. e viseu acolheu-nos.

pouco tempo depois das mudanças, apareceu o diego, à nossa porta. um bebé perdigueiro. claro que ficámos com ele.

se é fácil? não. não é. a vida custa muito, anda um verdadeiro absurdo. a alimentação é extremamente dispendiosa (não, eles não comem restos nossos, porque a nossa alimentação é um veneno para eles) e os preços das consultas e  dos tratamentos veterinários são proibitivos. não é fácil, mas vai-se levando. porquê? porque somos responsáveis por eles. a humanidade é responsável por todos os patudos, sejam eles quais forem, desde o momento que resolveu domesticá-los ou intervir negativamente, nos seus habitats. 

a vida pode estar a ser um pouco mais turbulenta, sim. mas, em compensação, somos uma família grande, com muita alegria e repleta de tontos que nos embriagam com tanta amor. quem afirma que eles são animais irracionais, são essas mesmas pessoas, irracionais. porque quem não consegue perceber aquele olhar, só pode ser órfão de racionalidade. e órfão de sentimentos. 

* eram seis mas o nosso mano Tiago ficou com o rodolfo. assim que o conheceu (uma salsichinha, ainda), apaixonou-se <3

Comentários

Unknown disse…
Bonito relato.
Quando precisei mudar-me, tinha comigo 6 gatos e dois cães, um pequenino e uma maior. Dois dos gatos haviam sido adoptados e um deles adoptou-nos, chegando ao nosso quintal, nunca soubemos como, num dia de chuva. A cadela, actualmente com cerca onze ou doze anos, também foi resgatada dum silvado que abrigava uma matilha - tantas histórias.
De casa com quintal, íamos para um apartamento pequeno. Desespero: o que fazer a tantos bichos?
Uma amiga ofereceu-se para ficar com dois dos gatos.
Para a restante malta, restou-me um acordo com minha mãe, para que os aceitasse em sua casa, com outras condições. E trouxe comigo a gata mais franzina e o cão mais pequeno.
A situação compôs-se, no início com muita choradeira minha, afastada do contacto diário com meus peludos, mas, segura de que estão bem.
A despesa é grande, como tão bem diz. Mas vai-se levando. Complicado é quando algum adoece.
Sei que, por vezes, a situação não ajuda nada - as vidas dão voltas e são complicadas. Mas, com esforço, tenta-se até à última.
;)

bj amg
Petit Leaves disse…
É isso <3 um beijinho!
Brown Eyes disse…
Também acho que são desculpas porque quem ama os animais é capaz de tudo para os ver felizes. Como deves saber aqui na quinta há muitos desde cães a cavalos, galinhas, gatos e agora até ovelhas. Deixamos de fazer as viagens que tanto gostávamos para que eles estivessem sempre bem. Quando saímos por algumas horas já andamos preocupados com eles. Dão tantas alegrias que tudo o que fazemos por eles é pouco. Viseu é uma linda cidade. Passei muitos anos férias aí ficava no hotel Grão Vasco, isto há uns anos largos, muito largos. Ponderei até ir para lá trabalhar, fizeram-me uma oferta mas acabei por não aceitar. Beijinhos

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